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Cap 13 A alegria dos agricultores
Cap 13 A alegria dos agricultores

 

     O povo da redondeza estava felicíssimo com a boa  safra e o preço razoável dos produtos do campo. Os agricultores quando não faziam farinha, vendiam a mandioca para os donos das casas de farinha distantes. Os carregamentos aconteciam através dos animais, ou num caminhão Ford que chegara da capital, exclusivamente para pegar fretes dos agricultores.

Os produtores de castanha, fumo, inhame e farinha, semanalmente, vendiam a sua produção aos armazeneiros de Monte Alegre e  outras cidades vizinhas.

Padrinho João, que deixara o comércio de mangalhos, dedicou-se à criação de gado e à agricultura. Ótimo negócio para quem vivia num comércio agitado nas feiras livres do sertão.

Saindo de um lugar que fora devastado pela terrível seca, com saldos cruéis para o sertanejo, nós estávamos diante de uma nova realidade de vida. Muita fartura. Gente alegre, que aos fins de semana não lhe faltava diversões das mais variadas. Além das festas dançantes com famosos sanfoneiros chegados da capital, aconteciam as festas folclóricas como bumba-meu-boi, pastoril e cantoria de violeiros.

Destas canções, a que mais levava alegria era a do  bumba-meu-boi. Seu corpo artístico se constituía de pessoas bem engraçadas. Era a alegria da garotada. De suas canções, alguns destaques interessantes.

Canção da burrinha:

“Minha burrinha como milho, como palha de arroz, o mau desta burrinha é que não pode com nós dois...”

Canção do jaraguá:

“Chegou, chegou, chegou o jaraguá, meu bichinho bonitinho, ele sabe vadiar...”

Meu padrinho não me proibia ir àquelas festas, desde que compadre Zeca fosse comigo. Ele me dava dinheiro e seguíamos - eu, Zeca e Luiz, seu filho. A gente não se demorava  porque  toda  madrugada, mesmo que fosse feriado, eu ia buscar água em Vera Cruz, sozinho, sem compadre Zeca ou seu filho Luiz. Sem relógio, fiquei habituado a acordar no frescor da madrugada, no primeiro relinchar dos jumentos, geralmente de três e meia para as quatro horas.

Levantava-me, sem acender o candeeiro, guiando-me pelas paredes ou no tato, abria a porta da frente e ia buscar um animal - jumento, burro-mulo ou égua -, no qual colocava cangalha e barris, e seguíamos – Deus, eu e o animal. Retornávamos antes do sair do sol. Às vezes nem compadre Zeca  havia  chegado para tirar o leite.

Na maioria das madrugadas, dava uma doideira nos jumentos e relinchavam  no transpor da meia-noite. Certo que  estaria na hora de sempre, eu ia buscar o animal. Com os pés descalços, no escuro, sem temer espinhos e picadas de cobras, pegava o animal no cercado. Retornava de Vera Cruz e nem sinal do dia amanhecer. Diversas madrugadas  meu padrinho não percebia nada – nem saída, nem chegada.

Completei onze anos de idade. Eu realizava todos os trabalhos pesados, apesar de manter um corpo franzino, porém, com alimentação bastante e de boa qualidade. Eu media forças com os adolescentes. Disputava mesmo era com os mais idosos!

Minha madrinha, apesar de tudo, tinha alguns cuidados para comigo. A qual sempre mandava tirar leite das burras e determinava que eu o bebesse. Ela dizia:

“Tome esse  leite para você não ficar enfraquecido.”

Enfraquecido, no dizer de madrinha Guilhermina, seria para evitar doença no pulmão.

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