Tio Francisco morava no sítio Beija-Flor, numa casa de taipa, sem reboco, suja, de chão batido e cheia de teia de arranha. Ele e dona Zefa, sua mulher, eram rudes. O casal tinha quatro filhas menores – Lúcia, Maria, Vera e Tereza, as quais não gostavam de mim.
Na residência de tio Francisco não existia cama, nem rede para mim. Eu dormia no piso de barro batido, sem nenhum forro ou agasalho.
Chequei àquela casa no período do inverno e fazia muito frio. À noite, eu procurava me aquecer deitando-me junto às trempes onde era feito o fogo no chão para cozinhar a alimentação, porém, eu disputava o espaço com dois cachorros sarnentos e fedorentos, que passavam a noite grunhindo e se coçando.
Dona Zefa tratava-me mal. Não tinha qualquer afeição por mim. Para ela eu não passaria de um ser inanimado. Ela e meu tio só me davam desprezo e sem motivo batiam-me com uma peça de corda, deixando minhas costas lapeadas.
Os vizinhos de tio Francisco logo tomaram conhecimento sobre a minha presença naquela casa. Os maus-tratos que tio Francisco e dona Zefa me dedicavam chamaram à atenção dos vizinhos da redondeza, que indignados protestavam.
Sem entender a razão pela qual não via mais meus pais. Sem seus carinhos. Sem o calor do seio materno, levava-me a passar chorando o dia inteiro.
A ausência de minha mãe abria uma ferida na minha vida...!
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