Os sargentos que aderiram aos defensores fervorosos do retorno de Luciano ao comando da Polícia Militar, com tudo quanto ele tinha direito – banquetes, caneta de ouro e as honrarias inerentes ao cargo de comandante geral -, foram contaminados pela euforia do aluizismo, e esqueceram-se de que o novo comandante era caxias. Deveras, muito Caxias!
Sem escrúpulo, chegaram a transpor os limites dos pilares da disciplina e da hierarquia, estremecidos pela politicagem nojenta praticada dentro da corporação.
Ocorreu, naquele tempo, a primeira punição assinada com dita caneta de ouro. Adivinha contra quem!?... Contra o sargento Geraldo - um dos doadores da dita caneta de ouro. E foi de 30 dias de prisão, recolhido ao xadrez. O qual já estava insatisfeito com Luciano e Aluizio.
A medida punitiva do comandante não agradou em nada aos subtenentes e sargentos, que tentaram reverter o ato do comando. Ele, porém, não cedeu. E a classe ficou de “Orelha em pé”. Não obstante, os audaciosos atos de indisciplina praticados por Geraldo, não deixaram brecha à sua defesa.
Desde então, as punições foram acontecendo. Tudo fazia crer que muitos haviam construído o seu castelo em cima de dunas, ao invés de construí-lo sobre rochas. Todavia, a maioria, que se reservava, continuava desfrutando do prestígio junto ao coronel Luciano, a quem ele agradecia estar de volta ao comando da corporação.
Geraldo, realmente, foi a ovelha negra naquela história.
Na esfera executiva, os primeiros atos do Governador Aluízio Alves foram fulminantes para os servidores civis e militares. Ele tornou sem efeito um aumento de quatro mil cruzeiros que o ex-Governador Dinarte Mariz havia concedido ao funcionalismo. Naquela época, as coletorias do interior do estado eram responsáveis pelo pagamento dos funcionários que serviam no interior. E o pagamento do primeiro mês de aumento já havia acontecido.
O governador determinou o retorno dos quatro mil cruzeiros aos cofres do estado e deu aos servidores estaduais, numa situação emergencial, um crédito de hum mil cruzeiros numa caderneta, cuja capa era verde para os policiais militares e marron claro para os civis.
Com o crédito, eles só compravam na cantina da Polícia Militar, que era instalada no interior do quartel do Comando Geral. E quem não o utilizasse, ficaria “chupando o dedo”.
Dia-e-noite, formavam-se intermináveis filas de funcionários e familiares, a fim de efetuarem suas compras na cantina da Polícia Militar. As filas davam volta em torno do quartel. Viam-se mães de família, mulheres gestantes e pessoas idosas, impacientes, enfrentando aquelas horríveis filas. Passadas de fome, muitas mulheres sofriam desmaios. Outras choravam desesperadas com a demora vendo seus filhos sofrendo com a fome que os castigava. Quantas donas de casa no desejo de saciar a fome dos seus filhos ultrapassavam o valor de suas compras, deixando-as nos limites dos minguados hum mil cruzeiros.
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