A desculpa sobre a ausência de melhores condições salariais para o funcionalismo era a de que Aluízio não contava com maioria na Assembléia Legislativa e para tal precisava fazer maior número de deputados nas eleições para a escolha de novos representantes do Poder Legislativo Potiguar, que naquela época não coincidia com a eleição majoritária.
O governador, utilizando-se dos meios de comunicação, fazia pronunciamento dramático e chamava à atenção dos funcionários civis e militares, pedindo-lhes que votassem nos candidatos da situação. E a tropa - na sua maioria - votou nos candidatos do governador, exceto os dinartistas mais radicais. E mais uma vez, foi lesada pelos oficiais inescrupulosos, que fizeram dos seus gabinetes comitês eleitorais, transformando o Quartel da Polícia Militar num antro politiqueiro. Uma grande falta de vergonha.
A bancada governista fez maioria na Assembléia Legislativa. As esperanças da tropa foram reabilitadas. Com a maioria dos deputados, o governo aprovaria as suas mensagens de reajuste salarial para os servidores. O desavergonhado aluizismo fardado passou a “dar as cartas” e zombava dos poucos dinartistas.
Empossados os novos deputados. Passaram-se dois meses... três meses... seis meses... E nada! Nada, entretanto, mudou, senão as constantes perseguições na Polícia Militar, através de um regime rígido, com a aplicação de punições perversas, chegando até a rebaixar o homem por 60 dias; isso quer dizer que o cidadão teria o seu salário diminuído ao posto anterior – se 3º sargento, ganharia como cabo, etc.
Revoltados, os sargentos se organizaram em comissão e foram falar com o Coronel Luciano, a fim de solicitar que ele fosse ao Governador Aluízio na busca de melhores vencimentos.
O governador, entretanto, não deu ouvidos ao coronel Luciano. Nem tampouco melhorou a situação da tropa que se alimentava no rancho.
Visando minimizar o sofrimento dos seus comandados, o coronel Luciano procurou a Sudene, que distribuía alimentos do Programa Aliança para o Progresso, criado pelo Presidente Kennedy, dos Estados Unidos, destinado a socorrer os países pobres, onde conseguiu gêneros alimentícios para abastecer o rancho. No almoço era servido um feijão que a tropa o denominou de “feijão Sudene” e fogo nenhum do mundo cozinhava. No jantar era sopa de bugol - uma espécie de arroz de péssima qualidade -, que até os porcos faziam cara feia para comer.
A insatisfação crescia de maneira assustadora no seio da tropa. A alimentação, que o rancho servia, era pobre em nutrientes, deixando o homem subnutrido e cadavérico. O índice de policiais militares tuberculosos causava espanto ao serviço médico da corporação.
Estressados com apertadas escalas de serviço e péssimos alimentados, diversos policiais desmaiavam dentro do quartel ou em via pública. Numa formatura geral, dois soldados desmaiaram, quando o tenente Damacínclito Menezes gritou:
“Bota no tambor do lixo!”
A onda de perseguições e desilusões fugia do controle, gerando constantes desentendimentos entre Luciano, oficiais e praças. Estes últimos estavam levando o comandante na “gandaia”. E o que Luciano falava era igual a um risco no chão que se apaga com o soprar do vento.
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