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Cap 16 A chegada de Manoel
Cap 16 A chegada de Manoel

     No inverno de 1953, com chuvas regulares, num domingo, à tarde, padrinho João conversava com compadre Zeca no alpendre da casa de farinha. Vem chegando um rapaz dos seus dezoito anos, alto e moreno, saudando-os:

  • Boa tarde!
  • Boa tarde - responderam.
  • É aqui que mora seu João Horácio?
  • É sim - respondeu padrinho João.
  • Ele tá?
  • Estar, sim! Sou eu.
  • Minha benção, meu padim!... Deus te abençoe! E quem é você?
  • Eu sou Manoel, seu afilhado, filho de Tião de Rosa.
  • Você é Manoel!? Mas como está grande!!... Cadê compadre Tião?
  • Papai vai bem.
  • E você anda fazendo o quê?
  • Eu vim procurar serviço por aqui.
  • E eu tenho serviço. Se você tem mesmo coragem para trabalhar, meu afilhado, nunca mais lhe faltará serviço.
  • Eu tenho, meu padim – concluiu Manoel.

Padrinho João chamou madrinha Guilhermina que se encontrava na cozinha:

  • Ô, Gui...lher...mi...na!!...
  • Diga, João! – respondeu gritando.
  • Guilhermina, vanha cá!

Madrinha Guilhermina aproximou-se:

  • É o quê?
  • Guilhermina, este rapaz é nosso afilhado.
  • É?!!... Ele é filho de quem?
  • Ele é filho de Tião de Rosa, de São José de Campestre.
  • Ai, é!? Deus te abençoe. Como vai a comadre?
  • Mamãe vai bem, minha madinha.
  • Guilhermina bote coalhada para ele, que deve estar com fome - determinou padrinho João.

Manoel era acanhado. Moreno com ossos salientes no rosto. Olhava por baixo e todo desconfiado. Depois da coalhada, padrinho João levou-o a um dos quartos da casa, ao qual disse:

  • Este é o seu quarto. O de Júlio é aquele ao lado – apontado com o dedo indicador.
  • Quem é Júlio, meu padim?
  • É meu afilhado e filho de criação.

Na segunda-feira, Manoel foi trabalhar com os homens do eito, limpando mato na lavoura.

Ele não tardou a enciumar-se com o tratamento que padrinho João me dedicava. Mais doente de ciúme ficou quando viu a amizade da vizinhança comigo.

Só madrinha Guilhermina que não me dava atenção e continuava magoada com a ida de André à capital pernambucana. E sempre estava me dando muxicões na cabeça, sem, contudo, respeitar a presença das pessoas de fora. E eu saia pulando com as mãos na cabeça e chorando. Manoel ficava me xingando, feliz da vida. Este só me olhava irado. Sua raiva aumentou mais quando um certo dia minha madrinha me surrou, e padrinho João ia chegando, asseverando-lhe:

  • Guilhermina, você sabe que eu não quero que você, nem ninguém, bata neste menino. Se ele for embora, quem é que vai me ajudar?
  • Eu ajudo, padim – respondeu Manoel, cuspindo por entre os dentes.
  • Você!? Você não faz a metade. Júlio já é um homem. E um homem de vergonha.

Luiz de compadre Zeca chegara para almoçar conosco. Sentamos à mesa. E almoçamos sem a presença de madrinha Guilhermina que ficara chateada. Durante a refeição, Manoel não se cansava de encarar-me fazendo gestos de quem gostara da surra que sofri.

Deixamos a mesa. Padrinho João determinou que eu e Manoel fôssemos cavar vários buracos para uma cerca que seria construída ao lado do curral, enquanto ele e Luiz de compadre Zeca iam à casa de farinha.

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