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Cap 71 O golpe militar
Cap 71 O golpe militar

 

           Em 31 de março de 1964, houve o golpe militar. As Forças Armadas assumiram os destinos do país.

Iniciavam-se as investigações sobre as atividades subversivas no Rio Grande do Norte, ocorrendo prisões de gente famosa e que estava no poder como Djalma Maranhão e Luiz Gonzaga, Prefeito e Vice-Prefeito da Capital Potiguar, respectivamente.

Fui escalado com outros companheiros da Polícia Militar para integrar uma patrulha mista com o Exército e fomos à cidade de Macau, onde prendemos diversas personalidades políticas daquela cidade, inclusive líderes sindicais. No meio dos presos encontravam-se o Prefeito da Cidade, senhor Venâncio Zacarias e o seu filho Floriano Bezerra, deputado estadual, que inicialmente foram recolhidos aos xadrezes da delegacia local, aonde eles iam costumeiramente soltar os seus correligionários.

 Os presos foram reconduzidos para o Hospital da Polícia Militar e recolhidos  ao   pavilhão   superior  daquela  unidade  de  saúde,  que  fora transformado em prisão para os presos políticos, onde eu concorria à escala de serviço, montando-lhes guarda.

Os meus perversos inimigos da corporação denunciaram-me às autoridade federais. E eu fui chamado quatro vezes para ir depor no Regimento de Obuses, cujo encarregado das investigações era o tenente Craveiro. Eles também denunciaram os ex-sargentos Gil e Estelito.

As perguntas que o tenente me fazia eram capciosas e baseadas em documentos que meus algozes lhe haviam enviado. Todo tempo eu estava sendo torturado emocionalmente, chegando a ponto de um capitão dizer ao tenente:

“Meta este cachorro no xadrez”!

O tenente, entretanto, respondeu que eu era militar e não podia ser recolhido. O oficial que me interrogava abriu uma gaveta de onde retirou umas fotografias grandes, as quais registravam a passagem pelo clube dos sargentos do prefeito Djalma Maranhão, do rei Momo e da Rainha do carnaval daquele ano de 1964.

Exibindo as fotos, e de maneira ameaçadora, o oficial me bombardeava  com  perguntas. Naquele tiroteio infernal, ele queria que as ditas fotos houvessem sido tiradas em um encontro comunista. Mas, eu lhe mostrava na foto as fantasias do rei Momo e da Rainha, e a ornamentação do clube.

O interrogador, que não encontrara nenhuma culpa em mim, insistia que eu dissesse que aquelas fotografias teriam sido tiradas num encontro comunista - batendo na mesma tecla. Eu reafirmava ao mesmo oficial haverem sido tiradas no clube dos sargentos, do qual eu era  o seu diretor social.

No último dia de interrogatório, à tarde, o tenente Craveiro disse-me que a partir daquele momento eu apresentasse minha defesa, e acrescentou:

“É feita por você mesmo, agora”.

Senti naquela ocasião uma transformação interior. Tudo começou a fluir facilmente. Falei mais de três horas. Parecia que eu era outra pessoa.

Deixei a gabinete do tenente. Eu me sentia como se estivesse flutuando.

Em nada prosperou a investida dos meus perseguidores, pois não tiveram sucesso as suas acusações junto ao Exército. E a Auditoria Militar nunca mandou me chamar, pois quem está com Deus no coração nada lhe acontecerá. Gil e Estalito também não compareceram à Auditoria Militar.

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