Em julho de 1992, afastei-me da presidência do Clube Tiradentes, a fim de fazer minha campanha para vereador à Câmara Municipal de Natal.
Os meus amigos - civis e militares - apostavam na minha vitória. Concorri pelo PDT. Sem estrutura financeira, minha campanha era feita junto aos policiais militares e amigos de outros segmentos sociais.
Nas minhas caminhadas, passei algumas vezes pelo Corpo de Bombeiros, conversando, individualmente com todos, que me diziam:
“Subtenente Júlio, nós e nossa família vamos votar no senhor. Nós conhecemos o seu heroísmo. E foi aqui que o senhor ficou preso porque defendeu o nosso direito. O senhor sofreu por nós.”
Dentro do Quartel do Comando Geral da Polícia Militar e outras unidades da corporação, a conversa era a mesma: Todos votariam no subtenente Júlio.
Meus algozes, que jamis me davam trégua, faziam uma campanha nojenta com o objetivo de prejudicar-me. Um subtenente da reserva remunerada da mesma corporação, que pedia votos para um candidato civil, que fora oficial da Polícia Militar, fez-me uma acusação muito grave, espalhando entre os policiais ativos e inativos:
“Vocês estão sabendo o que foi que Júlio fez, aquele cabra safado!? O governador lhe deu 3 milhões de cruzeiros e ele retirou o mandado de segurança.”
A fim de provar que eu não teria feito nada daquilo, fui à Secretaria do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, de onde peguei uma certidão provando que o Mandado de Segurança estava lá aguardando julgamento, mas, para muitos, as mentiras que se misturaram com a falta de conhecimento, foram transformadas em verdades, e a certidão da justiça era falsa. Como era cruel!!...
Outros comentavam:
O comandante também fazia a sua campanha negativa, quando falava à tropa:
“Júlio está fazendo tudo isso porque é candidato a vereador”.
E maioria dos policiais, que formava o bloco dos menos esclarecidos, saia dizendo:
“É mesmo!... Ele está fazendo isso porque é candidato. O comandante está certo.”
Deste modo, a campanha difamante tomava corpo gigantesco no meio dos policiais militares, e tais pessoas capciosas iam ganhando terreno com a sua campanha imunda.
Às vésperas das eleições - nos dias de pagamento do funcionalismo - o mesmo subtenente da reserva, inventou outra calúnia triste:
“Vocês estão sabendo da novidade de Júlio, aquele cabra safado!? O governador comprou uma casa muito boa para ele, empregou todos os seus filhos, e ele está do lodo do governador.”
Quem escutou aquela mentira, não só deixou de votar em mim, como também fez campanha contra.
O alto comando mandou a segunda seção fazer uma pesquisa, a qual constatava que, apesar de tudo, eu seria eleito.
As estrelas poderosas vendo a minha eleição como certa, resolveram determinar que os policiais que votavam em Natal, fossem cobrir as eleições no interior do estado. Mas, atingido o número solicitado pela Justiça Eleitoral, ainda era grande o número de policiais que votava na capital, razão pela qual o comandante determinou que o excesso de tropa fosse deslocado para o interior, mandando pagar diárias para todos. E assim, só ficaram na capital, os policiais que votavam em outras comarcas.
Chegou o dia da eleição. Não se via um policial militar que votasse na capital. O plano do alto comando foi perfeito.
Ocorreu o resultado oficial do pleito. Vi que os policiais haviam me traído, pois, apesar da campanha infame que promoveram contra mim, só os inativos me elegeriam. E as famílias dos policiais da ativa!? Por que não me deram o voto? Por que eles não conscientizaram as famílias a me derem os seus votos? Tive, apenas, 1.069 votos.
Não foi só a ação do comando e de outros elementos que me prejudicou. Contribuiu também a falta de politização, somando-se à cultura da maioria dos policiais. A exemplo disso, nos bairros que o maior número era de policiais militares, eu tive menos votos.
Nas minhas visitas, eu estive na residência de um policial militar da reserva remunerada, o qual me disse:
“Subtenente Júlio, aqui são 10 votos para o senhor!”
Um amigo meu, do Ceará, que durante muito tempo teve negócios em Natal, deixou sua residência em João Pessoa, no Estado da Paraíba, e no dia da eleição foi à Natal, a fim de pedir votos aos amigos no bairro Dix-Sept Rosado, onde ele havia morado. Depois de votar, já pela tarde, foi à residência de um seu compadre, e era justamente o dito policial da reserva que me prometera 10 votos. O amigo perguntou:
E assim foi a consciência da maioria dos policiais militares, que tiveram chance de votar em mim e não votaram. Centenas - do coronel ao mais simples policial - votaram em candidatos civis e fizeram campanhas dentro da corporação para eles. E, muitos para mudarem a cabeça dos PMs, denegriam a minha imagem com muita sujeira e baixaria.
Nas minhas visitas, passei pela guarda da Assembléia Legislativa, e quando eu me retirei, o sargento Floriano (nome fictício) que fazia parte daquela guarda, comentou:
“Um porqueira desse quer ser vereador!...”
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