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Cap 107 Candidatei-me a vereador
Cap 107 Candidatei-me a vereador

 

             Em julho de 1992, afastei-me da presidência do Clube Tiradentes, a fim de fazer minha campanha para vereador à Câmara Municipal de Natal.

Os meus amigos - civis e militares - apostavam na minha vitória. Concorri pelo PDT. Sem estrutura financeira, minha campanha era feita junto aos policiais militares e amigos de outros segmentos sociais.

Nas minhas caminhadas, passei algumas vezes pelo Corpo de Bombeiros, conversando, individualmente com todos, que me diziam:

“Subtenente Júlio, nós e nossa família vamos votar no senhor. Nós conhecemos o seu heroísmo. E foi aqui que o senhor ficou preso porque defendeu o nosso direito. O senhor sofreu por nós.”

Dentro do Quartel do Comando Geral da Polícia Militar e outras unidades da corporação, a conversa era a mesma: Todos votariam no subtenente Júlio.

Meus algozes, que jamis me davam trégua,  faziam  uma campanha nojenta com o objetivo de prejudicar-me. Um subtenente da reserva remunerada da mesma corporação, que pedia votos para um candidato civil, que fora oficial da Polícia Militar, fez-me uma acusação muito grave, espalhando entre os policiais ativos e inativos:

“Vocês estão sabendo o que foi que Júlio fez, aquele cabra safado!? O governador lhe deu 3 milhões de cruzeiros e ele retirou o mandado de segurança.”

A fim de provar que eu não teria feito nada daquilo, fui à Secretaria do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, de onde peguei uma certidão provando que o Mandado de Segurança estava lá aguardando julgamento, mas, para muitos, as mentiras que se misturaram com a falta de conhecimento, foram transformadas em verdades, e a certidão da justiça era falsa. Como era cruel!!...

Outros comentavam:

  • Não votem em Júlio por que ele retirou o mandado de segurança.
  • Júlio quer é um emprego.
  • Júlio quer ganhar é vinte e dois milhões.
  • É danado! O cara ganha 2 milhões e 300 mil cruzeiros, e passa para 22 milhões!!

O comandante também fazia a sua campanha negativa, quando falava à tropa:

“Júlio está fazendo tudo isso porque é candidato a vereador”.

E maioria dos policiais, que formava o bloco dos  menos esclarecidos, saia dizendo:

“É mesmo!... Ele está fazendo isso porque é candidato. O comandante está certo.”

Deste modo,  a   campanha  difamante  tomava  corpo gigantesco  no  meio  dos  policiais militares, e tais pessoas capciosas iam ganhando terreno com a sua campanha imunda.

Às vésperas das eleições - nos dias de pagamento do funcionalismo - o mesmo subtenente da reserva, inventou outra calúnia triste:

“Vocês estão sabendo da novidade de Júlio, aquele cabra safado!? O governador comprou uma casa muito boa para ele, empregou todos os seus filhos, e ele está do lodo do governador.”

Quem escutou aquela mentira, não só deixou de votar em mim, como também fez campanha contra.

O alto comando mandou a segunda seção fazer uma pesquisa, a qual constatava que, apesar de tudo, eu seria eleito. 

As estrelas poderosas vendo a minha eleição como certa, resolveram determinar que os policiais que votavam em Natal, fossem cobrir as eleições no interior do estado.  Mas, atingido o número solicitado pela Justiça Eleitoral, ainda era grande o número de policiais que votava na capital, razão pela qual o comandante determinou  que o excesso de tropa fosse deslocado  para o interior, mandando pagar diárias para todos. E assim, só ficaram na capital, os policiais que votavam em outras comarcas.

Chegou o dia da eleição. Não se via um policial militar que votasse na capital. O plano do alto comando foi perfeito.

Ocorreu o resultado oficial do pleito. Vi que os policiais haviam me traído, pois, apesar da campanha infame que promoveram contra mim, só os inativos me elegeriam. E as famílias dos policiais da ativa!? Por que não me deram o voto? Por que eles não conscientizaram as famílias a me derem os seus votos? Tive, apenas, 1.069 votos.

Não foi só a ação do comando e de outros elementos que me prejudicou. Contribuiu também a falta de politização, somando-se à cultura da maioria dos policiais. A exemplo disso, nos bairros que o maior número era de policiais militares, eu tive menos votos.

Nas minhas visitas, eu estive na residência de um policial militar da reserva remunerada, o qual me disse:

“Subtenente Júlio, aqui são 10 votos para o senhor!”

Um amigo meu, do Ceará, que durante muito tempo teve negócios em Natal, deixou sua  residência em João Pessoa, no Estado da  Paraíba,  e  no  dia  da  eleição  foi  à  Natal,  a  fim  de  pedir  votos aos amigos no bairro Dix-Sept Rosado, onde ele havia morado. Depois de votar, já pela tarde, foi à residência de um seu compadre, e era justamente o dito policial da reserva que me prometera 10 votos. O amigo perguntou:

  • Compadre, já votaram?
  • Já!!...
  • Votaram no tenente Júlio?
  • As chapinhas que eu tinha, distribui com o pessoal que eu estava pedindo votos. Eu vou votar agora, mas não tenho uma chapinha. Vocês têm uma chapinha para mim.
  • Temos não.
  • Então, diga-me o número...
  • Nós não sabemos, não.
  • Seus covardes, eu já votei. Eu estava só lhes testando!... Vocês não votaram no tenente Júlio, seus covardes!!...

E assim foi a consciência da maioria dos policiais militares, que tiveram chance de votar em mim e não votaram. Centenas - do coronel ao mais simples policial - votaram em candidatos civis e fizeram campanhas dentro da corporação para eles. E, muitos para mudarem a cabeça dos PMs, denegriam a minha imagem com muita sujeira e baixaria.

Nas minhas visitas, passei pela guarda da Assembléia Legislativa, e quando eu me retirei, o sargento Floriano (nome fictício) que fazia parte daquela guarda, comentou:

“Um porqueira desse quer ser vereador!...”

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