Com aquela guerra jurídica infernal, o telefone de minha residência não parava de chamar. Eu atendia cerca de 50 telefonemas por dia, de policiais da capital e das cidades do interior, os quais procuravam informações sobre o andamento da causa. Minha presença sempre estava sendo solicitada, razão que me levava a viajar para as principais cidades do interior potiguar.
Um fato estranho acontecia toda vez que eu me preparava para viajar. É que o comandante mandava me chamar. Uma dessas vezes, eu ia viajar ao meio-dia para Mossoró aonde chegaria às 17:00 horas. O coronel Mesquita mandou me chamar para falar com ele duas horas antes da viagem.
Apresentei-me ao comandante que me mandou conversar com o subcomandante, coronel Gadelha. Este, de bom “papo” e pouca ação, iniciou a sua conversa toda sem tirocínio fazendo muitos arrodeios como uma serpente que espera o melhor momento para dar o bote na sua vítima:
Eu pensei em perguntar ao coronel se ele e o general não conheciam o dispositivo constitucional que assegurava a todo cidadão o direito de ir e vir, mas estava em cima da hora, e eu não queria complicação, mesmo por que as minhas reuniões eram feitas fora dos quartéis.
O coronel terminou a conversa, sem eu entender mesmo o motivo pelo qual o comandante havia me chamado. Faltava meia hora para apanhar o ônibus. Sai correndo e o apanhei já saindo da rodoviária.
Em outra data posterior, marquei nova reunião com os policiais em Mossoró, num sábado, ás 14:00 horas; na sexta-feira, o comandante mandou me chamar ao seu gabinete. Lá não fui e antecipei minha viagem para a tarde daquela sexta. Fiz a reunião no sábado em uma sede nova do Clube Tiradentes naquela cidade, a qual seria inaugurada no domingo seguinte, com a presença da diretoria da matriz do Clube Tiradentes.
Descobri quem se interessava tanto pela minha ida ao gabinete do comandante, a fim de me manter sob forte pressão. Passaram-se 3 dias quando me encontrei com um sargento da reserva que teria ido com a diretoria para a inauguração do clube, o qual me disse:
“Fomos a Mossoró para a inauguração do clube. Você esteve lá no sábado conversando com o pessoal. Não foi!? O sargento Floriano preocupado com você, telefonou para o comando!...”
Casualmente, sem eu nem pensar, o cidadão descobriu o nome de quem não tinha um pingo de dignidade, e praticava aquela ação tão mesquinha contra mim - era o mesmo que me chamara de porqueira quando da minha candidatura a vereador.
Numa quarta-feira, pela manhã, recebi um telefonema do Programa Tropical Comunidade da Rede Tropical de Televisão, que me convidava para uma entrevista às 13:00 horas daquele mesmo dia. Só um subtenente e três soldados PMs tomaram conhecimento de que eu iria para a referida entrevista. Ocorreu que todo o programa fora ocupado pelo senhor Lindolfo Sales, Diretor do Detran, ficando minha entrevista transferida para sexta-feira da mesma semana.
No outro dia, quinta-feira, às 6 horas e 30 minutos, meu telefone tocou. Era um cidadão, o qual se identificou com um nome que eu jamais ouvira falar existir nas fileiras da corporação, e com a voz roca, perguntou:
“Júlio, cadê o escalonamento, Júlio?”
Pensando que não se tratava de nenhum malfeitor, passei a prestar algumas informações, quando o tal elemento me interrompeu:
“Júlio, esse escalonamento vem de Ceará Mirim para Natal de bicicleta. Seu cabra sem-vergonha! Você não disse que ia dar entrevista. Seu mentiroso safado!”
Interrompi a comunicação, exclamando:
“Mas, que mal eu lhe fiz! Eu lutando por você e é o pagamento que estou recebendo!? Por que você não me diz isto ao vivo, hein!?”
O tal elemento rebateu:
“Eu estou na sua cola. Onde eu lhe encontrar lhe darei uns bofetes”.
Minha filha, que ouvia toda aquela conversa, pegou a extensão telefônica e protestou:
“Seu covarde, não diga isso com papai não!!”
Não foi difícil eu descobrir que o autor daquele infeliz telefonema teria sido um subtenente, o qual cruzou comigo a dois dias da ameaça, e muito cínico, cumprimentou-me e eu fiz de conta que nada tinha acontecido.
Enquanto nós brigávamos na justiça, numa busca desesperada para assegurar o nosso direito, os cabos e soldados fundaram mais duas entidades de classe - um clube e um grêmio. Continuando, um grupo de praças através de uma ação na justiça, derrubou o cabo Aurélio, e assumiu uma junta interventora comandada pelo soldado José Luiz.
Na classe de subtenentes e sargentos, também, um grupo de sargentos moveu uma ação na justiça contra o sargento Siqueira, com o objetivo de destituí-lo do cargo. Outro grupo de sargentos foi ao comando solicitar a sua intervenção no Clube Tiradentes.
As autoridades, que eram contra ao nosso direito queriam, exatamente, que acontecesse todo aquele desentendimento no meio dos praças. Para aquela gente, tudo que estava acontecendo era maravilhoso.
Outro fato que, simplesmente, prejudicou um passível aquartelamento da tropa foi a doação de 600 metros de azulejos feita pelo coronel Gadelha, já como Comandante Geral, para as piscina do Clube Tiradentes, com o único objetivo: O presidente Siqueira segurar a tropa.
Em uma das assembléias, o presidente Siqueira anunciou a doação do comandante. Evidentemente, que ele não iria dizer a sua real finalidade, nem se pode afirmar, categoricamente, que este foi o real objetivo.
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