No outro dia - 26 de março - a manchete do jornal Tribuna do Norte, estava fumaçando, bem destacada:
“GREVE NA PM É IMINENTE POR CAUSA DOS BAIXOS SALÁRIOS”.
Na manhã daquele dia, fui ao Hospital da Polícia Militar, onde me procurou um major chefe da segunda seção, que sempre vivia me perseguindo, o qual muito descortez, que, aliás, nunca foi novidade, disse-me para ir falar com o comandante geral, urgente. Alguns companheiros da reserva que se encontravam comigo, seguiram-me até ao quartel, onde impaciente, o oficial de dia me aguardava, levando-me direto ao gabinete do comandante geral, e lá fiquei 3 horas esperando numa sala, enquanto em igual tempo, os coronéis estavam reunidos, reservadamente, com o comandante às portas fechadas.
No tempo que passei esperando, policiais da ativa e da reserva foram até à sala diversas vezes, os quais me informavam de que a tropa estava sendo mobilizada, inclusive com o apoio de alguns oficiais subalternos. E tudo estava certo: Se eu ficasse preso, seria deflagrada uma greve.
Já bastante impaciente com tanta demora, finalmente a porta do gabinete do comando geral foi aberta. Era o Coronel Dantas - o subcomandante - que me chamou fazendo sinal com a mão.
Entre o comandante e o subcomandante existia uma cadeira vaga. Era para mim, na qual ordenou o comandante que eu me sentasse.
“Senta Júlio! Senta Júlio!”
E continuou o comandante:
“Olhe, Júlio, nós mandamos lhe chamar aqui, não é pra lhe prender não. É só pra conversar com você.”
Notei a fragilidade incrível do comandante, porém, esta era assanhada com a presença hostil do coronel Dantas, que impiedosamente aplicava pesadíssimas punições contra os seus subordinados menores, os subtenentes, sargentos, cabos e soldados. O qual, de cara fechada, me olhava por cima dos seus óculos de graus.
Sobre a mesa do comandante estava um exemplar da Tribuna do Norte que tinha a minha entrevista. A conversa teve início pela manchete. Os coronéis queriam atribuir a mim um trecho da reportagem que falava sobre a “chamada lei dos 30” instituída pelo coronel Dantas e destacava:
“Os PMs responsabilizam o Coronel Dantas, subcomandante da Polícia Militar, pelo retorno da lei dos 30”.
O comandante queria que eu enviasse carta à redação do jornal, a fim de desmentir aquela reportagem, pois os coronéis entendiam ser eu o responsável pela acusação feita ao Coronel Dantas.
Como Presidente do Clube Tiradentes, disse ao alto comando que as declarações seriam mantidas, e que eu não era responsável pelo que não disse.
Só analfabeto não entenderia quem teria dado as declarações sobre o Coronel Dantas.
Os coronéis insistiam em querer me atribuir as acusações, quando, de repente, chegou à reunião o jornalista Jurandy Nóbrega, que de viva voz informou ao comandante que eram os PMs na rua que davam aquelas declarações, quando abordos.
O comandante, sem ter mais como me pressionar ordenou-me:
“É, Júlio, pode descer, né...! Mas, antes tome um refrigerante. Toma, Júlio. Toma...”
Retornei à tropa, que estava tensa, inclusive até oficiais superiores, que não participavam do generoso festival de gratificações, faziam severas críticas ao comandante.
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