Já ao por-do-sol, compadre Zeca, seu filho Luiz e eu estávamos no curral separando os bezerros das vacas leiteiras, quando vem chegando Maria, irmã de Zeca por parte de pai.
“Júlio, dona Guilhermina tá lhe chamando.”
Deixei o serviço e fui correndo sem desperdício de tempo, pois, minha madrinha sempre estava catando motivos para me bater. Encontrei minha madrinha na cozinha, conversando com uma mulher magra, branca, de estatura média, e uma mocinha, também da mesma cor.
Eu que já estava prevenido sobre a chegada de minha mãe, que alimentava cada vez mais uma grande revolta dentro de mim, parei diante delas e calado. Fitei-as. Minha mãe tentou chegar junto de mim erguendo os braços, querendo me abraçar, exclamando:
“Meu filho!!”
Não encontrei pureza em suas palavras. Vi que nos seus olhos não estava expressando o sentimento de mãe. Vi uma mãe que me abandonara quando eu mais precisava des seus carinhos. De tudo quanto uma criança necessitava, eu não tinha. Não tive uma afetuosa mão que me acariciasse. Ou um doce seio que minha cabeça deitasse. Infelizmente, foi esta a imagem que desenhei daquela mulher que se dizia ser minha mãe. Que me abandonara. Que me deixara nas escuras veredas da vida - sem os carinhos e a indispensável proteção de mãe.
Ela, contudo, com os braços abertos, avançava em minha direção querendo me abraçar. Eu, porém, não a deixei. Fiz meia volta. Dei-lhe as costas. Corri para distante. Refugiei-me dentro das bananeiras, e de lá fiquei observando a movimentação da casa, do terreiro, e do curral.
Compadre Zeca e Luiz, que haviam terminado o trabalho no curral, conversavam no terreiro a espera de padrinho João.
Chegou a noite. À hora do jantar, fiquei observando tudo pela brecha da porta. Terminou o jantar. Vi que padrinho João ia para o terreiro. Sai correndo e voltei ao mesmo local nas bananeiras. Ele começou a gritar:
“Ô Jú...li...o!!... Ô Jú...li...o!!...”
Gritou mais de uma hora. Impaciente, pegou uma lanterna e saiu focando entre as bananeiras. Corri e fui me esconder dentro da cocheira dos cavalos.
Naquela noite padrinho João não foi fazer suas visitas noturnas às residências dos moradores, como de costume. Vem a madrugada. E não dormi. O jumento relinchou dando sinal de que era madrugada. Fui pegar a égua e fiz mais um carregamento d’água antes que acordasse alguém. Quando compadre Zeca chegou para tirar o leite, eu já havia deixado o animal no cercado. Escondi-me no sítio de cajueiro e mangueira. O meu café da manhã foi caju e manga.
De cima de uma mangueira bem alta, eu observava todo o movimento ao redor da casa. Vi quando minha mãe e Belinha, logo cedo, deixaram a casa de padrinho João e foram embora. Fiquei observando-as até desaparecerem numa curva.
Não consegui me aproximar da mulher que me gerou, mas não me criou. Que me amamentou, mas não me conservou junto de si. Que me entregou ao mais cruel destino, submetido a uma vida de sofremento e humilhação. Mas com a passar dos tempos, eu me arrependi de tê-la feito sofrer. Achei que ela sofreu com a rejeição que lhe dei.
Oh, meu Deus! Quem me dera se eu podesse voltar no tempo.
Na casa de padrinho João e na casa de farinha só se falava sobre o meu comportamento. Desconfiado e de cabeça baixa, fui tomando chegada!... Chegada!... Padrinho João, Zeca e o senhor Tomaz falavam sobre eu e minha mãe.
Sulina, esposa de compadre Zeca, vem chegando e comenta com madrinha Guilhermina, que assistia aquela conversa:
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