Foi pelos onze anos de idade que resolvi aprender a ler, pois, meu padrinho se preocupava muito para me dar trabalho, porém, não me educava para uma vida diferente. Eu lhe era o burro de carga e sela, como os seus próprios moradores e trabalhadores o diziam. Quando pedi para aprender as primeiras lições na Cartilha de ABC, meu padrinho não fez questão para me ensinar.
Com aquela Cartilha ou Carta de ABC, todas as noites, ele me ensinava meia hora. Primeiro ensinou-me as letras, é lógico, prosseguindo juntando-as e pronunciando as palavras.
Aprendi rápido. Não tardei, contudo, já soletrando, e arrastando a voz. E pronunciava as palavras. Fui me esforçando e muito rápido estava lendo desembaraçado, que causava admiração aos trabalhares e ao próprio João Horácio, que se sentia orgulhoso. Também aprendi a tabuada com as quatro operações. Luiz de compadre Zeca seguiu o meu exemplo, e pediu para meu padrinho lhe ensinar também. Ensinou até melhor do que me ensinara. Porém, Luiz não era bom de cabeça para com as letras.
Os moradores e vizinhos se impressionavam com a rapidez que eu lia. Passei a ler tudo que aparecia na minha frente. Páginas de livros e de revistas encontradas dentro de casa ou nos monturos. Padrinho João sentia-se vaidoso porque me ensinara a ler.
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