Cap 119 Ninguém falava comigo
Cap 119 Ninguém falava comigo

 

             Dezenas de companheiros que foram me visitar, voltaram do portão de entrada, pois, a guarda tinha ordem para não deixar ninguém falar comigo. Minha família só depois de muita luta foi que conseguiu ter acesso ao meu alojamento. O meu advogado, doutor José de Ribamar de Aguiar, só falou comigo após apresentar as suas prerrogativas de advogado.

Os policiais militares quando tomaram conhecimento sobre a minha prisão, abandonaram os postos de serviço e não se intimidaram com as ameaças, e na tarde do dia 15, fizerem uma assembléia no Clube Tiradentes, elegendo o meu vice-presidente, subtenente Alcides Pinheiro, como o seu novo líder à frente da  greve e decretaram assembléia permanente com a presença de representantes da OAB, direitos humanos e sindicatos.

O clube foi cercado por oficiais e praças fiéis ao comando. Os policiais grevistas e seus familiares ficaram todos juntos, a fim de evitar possíveis prisões. De fato,  diversas vezes alguns oficiais tentaram invadir as dependências do clube,  com  o  objetivo de prender os subtenentes Alcides e Matias. Tentaram prender outros líderes. Mandaram bloquear o telefone do clube.

Todo desenrolar do movimento no Clube Tiradentes, eu acompanhava através da televisão. Vi que no final, as esposas, especialmente, estavam unidas. E assisti uma entrevista da senhora Crizelda, esposa do companheiro Gonçalo, a qual fazia sérias acusações aos oficiais, inclusive, ao major Cavalcante, que insistiam em querer invadir o clube, a fim de efetuarem prisões em massa, quando eles deveriam ter um pouquinho de dignidade, pois aquele movimento os beneficiaria também.

No dia 15 de dezembro, foi publicado no boletim do comando um processo de Conselho de Disciplina contra mim com o fito de aplicar-me crudelíssimas punições. Para presidir o processo foi dignado o tenente-coronel Emanuel Freire, e no dia seguinte - 16 - o boletim do comando publicou  30 dias de prisão que me foi aplicada pelas perversas e insensatas estrelas da PM.

Outras prisões, entretanto, foram ocorrendo diariamente, aumentando o número de policiais que ia sendo preso nas ruas. O clube cercado, faltando alimentação  para os policiais e seus familiares, quem tentava sair era preso e recolhido ao quartel do comando geral. E os que permaneciam dentro do clube, estavam passando fome, apesar do apoio financeiro dado pelos deputados Júnior Souto, Carlos Eduardo Alves e Antônio Capistrano.

O movimento foi se desgastando pela demora. A maioria dos policiais deixou o movimento. Uns conseguiram burlar as guarnições e foram para suas residências, e outros se apresentaram aos seus comandantes de subunidades. Os poucos que permaneceram no clube, não viam chance de vitória. Os subtenentes Alcides Pinheiro e José Matias do Nascimento deixaram o clube, e foram presos. Matias foi recolhido ao Complexo Policial da Zona Norte, e Alcides Pinheiro ao Quartel do Corpo de Bombeiros.

Perplexo, assisti pela televisão, a humilhante prisão do soldado Luiz Gonzaga, em sua residência.  No outro dia, 16 de dezembro, li nos jornais que o soldado Gonzaga teria sido espancado pelos seus próprios companheiros de farda, e estava recolhido a um dos xadrezes, no Quartel do Comando Geral.

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