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Cap 104 A assembléia 1º de maio de 1992
Cap 104 A assembléia 1º de maio de 1992

 

             No dia 1º de maio, pela manhã, convidei os oficiais que se diziam apoiar o aquartelamento para comparecerem ao Clube Tiradentes, uma vez que antes da assembléia seria feita uma reunião com eles, os quais, temerosos às ameaças do subcomandante Dantas, recuaram. À hora marcada, lá eles lá não estavam, senão o coronel Mendonça.

Os policiais levaram suas famílias, deixando o clube lotado. Eles estavam dispostos ao aquartelamento e aguardavam, tão somente um comando. Exatamente, às 13 horas e 30 minutos, fui chamado ao telefone. Era o coronel Waldomiro Fernandes da Costa, Secretário Chefe do Gabinete Militar, o qual me comunicava que o Governador José Agripino, que  se encontrava no Rio de Janeiro, o havia autorizado levar uma proposta de melhoria salarial para os policiais, na reunião daquela tarde.

Pela proposta do governo, anunciada pelo telefone, a partir do dia 1º de maio, seria dado um reajuste de 140%, de uma só vez no soldo, igual ao aumento do salário mínimo, e reajustaria a gratificação de função (GF-1) de 30% para 67.33%. 

A diretoria do Clube Tiradentes se reuniu, preliminarmente, com o coronel Mendonça, entendendo-se que a proposta do governo não era o que se estava esperando, mas seria viável não podendo ser rejeitada. Chegando-se a esta conclusão, convocamos os policiais, a fim de informá-los sobre a proposta do governo e solicitamos controle emocional durante as discussões com  o  seu representante. Fizemos ver aos policiais que não podíamos recusar a proposta, considerando que o governo havia recuado e que devíamos sair da reunião de cabeça erguida. De início, a proposta foi aceita por 80% dos presentes, enquanto os outros queriam o aquartelamento.

Aguardamos a chegada do coronel Waldomiro, quando fomos surpreendidos com as presenças inesperadas do Comandante Geral da Polícia  Militar, do coronel Dantas e os demais coronéis do alto comando e os majores Reis e Josemar, que se apareciam até dois ferozes leões. Que, sem a juba, davam esturros de franzir testas e sobrancelhas.

Os policiais que se encontravam sentados nas primeiras cadeiras da frente, gentilmente, cederam os seus lugares aos oficiais. Eis que chegou o coronel Waldomiro, o qual se sentou ao lado da diretoria, onde já estavam o comandante e o coronel Mendonça.

O comandante vendo que os seus oficiais do alto comando estavam sentados ao lado dos policiais, disse:

“Júlio, convide os coronéis para participarem da mesa.”

Convidei-os. Porém, não gostei porque a presença deles à reunião,  era  exclusivamente  para  inibir  os  policiais.  De  fato,  o foi. Dando início aos trabalhos, foi passada a palavra ao coronel Waldomiro, que anunciou a proposta do governo, o qual justificou a demora do chefe do executivo na solução dos problemas financeiros dos policiais militares e culpou a desinformação, ao enfatizar:

“Não existe mal maior do que a desinformação.”

Após a fala do Chefe do Gabinete Militar, foi dada a palavra ao comandante, coronel Luiz Pereira, que nada acrescentou às palavras do seu colega.

Durante a apresentação da proposta, o sargento Peixoto(*) perguntou que garantia o governo daria, a fim de cumprir aquela proposta, citando o que houvera acontecido no clube dos oficiais há poucos dias.

Os coronéis não gostaram da pergunta, mas de imediato, fiz uma colocação dizendo que o sargento estava certo, contudo, eu não acreditava que o governador recuasse, pois tudo estaria sendo documentado pela imprensa presente - jornais, rádios e televisões. E, se isso acontecesse, o governador ficaria desacreditado perante a sociedade, os policiais e seus familiares.

O terceiro a fazer uso da palavra foi o coronel Mendonça dizendo que a proposta satisfazia, em parte, aos anseios dos oficiais, esclarecendo:

“Não é a proposta ideal ainda, mas é muito próxima  do que os oficiais desejam e não deixa de ser uma boa conquista para a tropa inteira, pois os percentuais  oferecidos serão pagos de uma vez, o que muitas categorias de servidores estaduais não terão um aumento que representa 172.33%.”

Ouvidos os 3 oficiais, chegou a minha vez. Iniciando, eu disse que:

“Apesar de aceitar a proposta do governo, ela era boa para um salário mínimo de 96 mil até ontem - dia 30 de abril -, mas, a partir hoje - lº de maio -, quando o salário mínimo passou para 230 mil cruzeiros, a proposta governamental já não é boa, mas, como nós estamos com um Mandado de Segurança na justiça e já sentindo o cheiro do direito... Ela é aceitável.”

Após minha fala, houve a votação. Foi aprovada a proposta, muito embora existisse insatisfação dentre boa parte dos presentes, que não se  manifestou porque considerou constrangimento a presença dos coronéis, que ficavam atentos até a um piscar de olhos, quando deveriam ter o mínimo de sensibilidade e respeito para com os seus comandados.

Terminava a reunião, e com a saída dos coronéis, vem, então a revolta dos policiais que não estavam de acordo, e que temerosos não externaram os seus pontos de vista.

Revoltados e de posse do microfone, partiram para os protestos. Eles diziam que o reajuste não iria resolver, basicamente, nada, e a fome continuaria castigando as suas famílias.

Em meio àquela confusão chegou o major Paulo Frassatti de Oliveira, que sempre esteve do nosso lado cultivando bom relacionamento com os seus subordinados. O major não se conformou com a proposta, e o recuo dos oficiais, chamando-os de covardes.

Os policiais exaltados decidiram ia buscar a reportagem do Aqui Agora, da Tv Ponta Negra, que se localizava em frente ao Clube Tiradentes. Com a presença da reportagem houve manifestação dos policiais, causando indignação aos “poderosos” coronéis.

No outro dia - 2 de maio -, nas unidades policiais militares, o que se comentavam eram os últimos acontecimentos da assembléia do dia 1º, e naquele mesmo dia, o comandante resolveu punir o major Paulo Frassatti e o Soldado Gonzaga.

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