Vem amanhecendo o dia. As tropas do Exército haviam cercado o quartel com tanques de guerra, carros de combate, metralhadoras pesadas instaladas em trincheiras, barracas de campanha armadas dentro do sítio de mangueiras em frente ao quartel.
Às 6 horas, o sargento Queiroga, que integrava as tropas do Exército, adentrou ao quartel, a fim de falar com o subcomandante, coronel José Reinaldo, ao qual entregou um ofício assinado pelo general Omar Emy Chaves, cujo documento intimava-o a render-se com os seus comandados às tropas federais.
O comando de ocupação estava confiado ao coronel Mendonça Lima, Comandante do 16º Regimento de Infantaria. À distância de uns 150 metros, através do som do dito carro de propaganda, um oficial do Exército leu o seguinte ultimato:
“COMPANHEIROS DA POLÍCIA MILITAR: DE ORDEM DO EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO DA GUERRA, DEVEIS DEIXAR O VOSSO QUARTEL DENTRO DE DEZ MINUTOS E ENTRAR EM FORMA COLUNA POR SEIS, NA AVENIDA RODRIGUES ALVES, FRENTE AO PORTÃO PRINCIPAL, FRENTE PARA A IGREJA SANTA TEREZINHA. RENDAM-SE INCONDICIONALMENTE! NO CASO DE RESISTÊNCIA, VOSSO QUARTEL SERÁ BOMBARDEADO E EM SEGUIDA TOMADO DE ASSALTO. NÃO QUEREMOS DERRAMAMENTO DE SANGUE. NÓS SOMOS VOSSOS IRMÃOS”.
Finda a leitura do ultimato, três aviões B-26 da Força Aérea Brasileira passaram a sobrevoar o prédio do quartel. O pavor tomou conta de todos. Não se via uma só gota de sangue nos rostos esqueléticos e empalidecidos dos policiais militares.
Atônita, toda a tropa ficou imóvel para ouvir aquela drástica e inconseqüente determinação. Imediatamente, a tropa pacata e ordeira, sem ódio, sem ira, e acima de tudo consciente, foi, sem demora, entrando em forma no local anunciado, independentemente, de qualquer comando interno.
Naquele momento teve oficial afeito a humilhar aos seus subordinados, que invés de ir entrar em forma, borrou-se todo e correu para o sanitário.
Verificando que a ordem havia sido cumprida, o comando de ocupação chamou à sua presença, em sua barraca, o oficial e o subtenente mais antigos. E lá se apresentaram o coronel Reinaldo e o subtenente Alfredo Batista de Oliveira. O coronel Mendonça Lima os recebeu com muita fidalguia, o qual solicitou que o coronel Reinaldo entregasse as armas que os policiais estavam sendo acusados por Aluízio de portá-las. José Reinaldo, todavia, num gesto heróico, respondeu:
“A NOSSA ARMA É A FOME”.
Aos poucos, os soldados do Exército foram se aproximando ao portão do Quartel da Polícia Militar. Divididos em grupos de combates, eles tremiam tanto que os seus fuzis só faltavam cair no chão. As laterais e a retaguarda estavam cercadas por tropas federais. Dalí era impossível alguém fugir.
A sentinela da hora, que muito mal conseguia se equilibrar, foi substituída por uma da tropa de ocupação, enquanto um capitão do Exército se dirigia com um grupo de soldados ao Material Bélico, a fim de apreender as armas. Quão, porém, foi a surpresa daquele oficial ao verificar que os fuzis estavam bem engraxados e ensarilhados e as granadas e munições em seus caixotes, o qual enxugando as lágrimas que lhe banhavam a face, exclamou:
“Com um graxeiro deste é impossível brigar!"
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