Duas guarnições sob o comando de oficiais estavam, permanentemente, estacionadas, à entrada da minha rua.
Reuni meus filhos, aos quais comuniquei que de uma hora para outra, eu poderia ser preso, e que eles tivessem cuidado com a saúde da mãe deles, aos quais esclareci sobre a conversa que eu teria com o major Câmara, deixando-os tranqüilos de que aquele oficial era digno de confiança.
À hora da reunião na OAB, desloquei-me para lá. As guarnições da PM continuavam no mesmo local. Consegui ir por outro caminho que os oficiais não sabiam e fui para a reunião, que se prolongou até às 17 horas e 20 minutos.
Foi quando o Major Câmara interrompeu:
“Calma Júlio!!... Calma Júlio!!...”
Desconfiei que o Major Câmara, covardemente, teria comunicado ao comando que iria se encontrar comigo. Ele havia me traído e não era, em nada, diferente dos meus perversos algozes. Bem à minha frente estava estacionada uma viatura da segunda seção, com dois sargentos sentados no banco traseiro, a serviço dos tiranos prazeres do alto comando, e a porta do lado do passageiro aberta. Eu não quis mais conversa com os oficiais; fui direto à viatura e sentei-me no banco de trás entre os dois graduados.
O major Cavalcanti embarcou no veículo, mandando o seu motorista seguir para o Quartel do Comando Geral da Polícia Militar. Já próximo, ele mandou estacionar o veículo e disse:
“Vou telefonar daquele orelhão para o coronel Altamiro”.
Retornou logo, ordenando ao motorista ir para o Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças - CFAP, por determinação do subcomandante.
Preocupado com a saúde de minha esposa, solicitei ao major:
A resposta do major me deixou angustiado. Via-se, portanto, evidenciada quanta maldade existia no coração daqueles oficiais, os quais usavam o poder que lhe fora dado temporariamente só para fazer o mal. Fiquei amargurado, preso e temendo um acontecimento triste dentro de casa.
Eles estavam tão certos de que eu seria preso, que o major Reis, comandante do CFAP, estava me aguardando. Ora! Com uma traição daquela!!... Chegamos ao CFAP, e eles haviam mandado ir para casa os alunos sargentos, cabos e soldados e cerca de 200 alunos soldados. Ao descer do veículo, fixei meu olhar na face do major Cavalcanti, ao qual disse:
“Por favor, não passe nem perto de minha residência, e tudo quanto vocês estão fazendo comigo, eu anularei na justiça”.
O Major Reis conduziu-me ao refeitório dos subtenentes e sargentos, onde estavam quatro sargentos jantando e aos quais disse:
“O subtenente Júlio vai jantar aqui e ficará no alojamento de vocês”.
Preocupado que poderia acontecer algo de grave com minha esposa, solicitei que o subtenente Amadeu, residente a poucos minutos do CFAP, fosse à minha residência, a fim de comunicar a minha família, mas apesar de sua presteza, a televisão já havia divulgado. E por sorte, na hora de notícia Maria Aparecida - minha esposa - não estava assistindo.
O comandante do CFAP recebeu ordem do Comandante Geral da PM para colocar uma sentinela armada de revólver à porta do meu alojamento, deixando-me incomunicável como se eu fosse um bandido perigoso. Mas, bandido é quem pratica ato às margens da lei. E isto eu não fiz.
Os sargentos não gostaram da sentinela colocada ali, e assim que o major Reis chegou, no dia seguinte, foram solicitar a sua retirada. Eles argumentaram de que os presos perigosos gozavam de liberdade dentro do presídio; muitos até saiam para a rua, e eu, sem ter praticado nenhum crime, estava incomunicável.
Os sargentos insistiram junto ao major Reis, que resolveu convocar os oficiais, mas, dentre os quais teve quem dissesse:
“Não só deve permanecer a sentinela no alojamento do subtenente Júlio, como também colocar sentinelas nas laterais”.
Cientes sobre a posição dos oficiais, os sargentos não desistiram e o major mandou retirar a sentinela, que passou a circular pelos corredores do estabelecimento militar.
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