Fazia três anos que eu estava morando com padrinho João. Chegamos ao mês de junho e nenhum sinal de chuvas. Os barreiros e açudes - principais reservatórios d’água - só tinham lama torrada.
Sem previsões de chuvas, aquela foi a pior seca da década de 40. Daquele capinzal verde do ano anterior, não existia mais nem os troncos. O verde das matas se transformara em garranchos secos. O gado estava morrendo de fome e sede. A maioria dos fazendeiros vendera suas rezes, evitando maiores prejuízos. Sem sinal de chuva, a seca chegava ao seu ponto crítico. Os animais de meu padrinho bebiam no açude da fazenda Uirapuru, do major Theodorico Bezerra, de quem o velho João era amigo pessoal.
Padrinho João havia armazenado bastante capim seco, pois pelo prenúncio dos antigos aquele ano seria de horrível seca. Não obstante, muitos fazendeiros não se cuidaram tanto...
A ração normal do gado não durou muito, inclusive a palmatória. Meu padrinho recorreu ao seu estoque de capim seco. Foi retirando para alimentar os animais, mas com certo tempo o rejeitaram. Ele agiu rápido. Mandou buscar comboios de cargas de mel de furo nos engenhos do agreste. O capim seco, depois de cortado miúdo, era molhado com garapa do mel. A experiência foi válida, salvando os animais. O gado camia chega ficava lambendo os beiços. Até o leite aumentou. Até eu tomava a carapa do mel de furo. Era gostosa!
Passavam-se oito meses de seca, a reserva da ração estava chegando ao fim. A fome devastou os animais dos fazendeiros que não se preveniram, e inutilmente tentaram resistir à seca com poucos meios, e, desenganados, viram os animais morrerem de fome e sede.
Sem pastos, a terra era varrida pelo vento que formava temíveis nuvens de poeira, com redemoinho fazendo ziguezague chega rodopiava. E arrastava o que o vento menos bravo não conseguira levar.
Madrinha Guilhermina, à véspera do dia de São José – o santo da chuva -, 19 do mês de março, reuniu os vizinhos da redondeza e fez uma grande procissão com uma imagem de São José.
Lá se ia a procissão com muita gente, durante o dia ou à noite. Homens, mulheres e crianças. De noite, uns com lampiões para iluminar o caminho, outros tentavam acender velhas, porém, o vento as apagava, o qual parecia não gostar do santo. Os fiéis rezavam e contavam hinos de louvor ao santo. Pediam ao santo – aquela imagem de gesso – que intercedesse junto a Deus que mandasse chuva para o sertão.
Passou o dia do santo, que na cabeça daquele povo, conseguiria chuva. Rezaram... Pediram...! Cantaram hinos de louvor ao santo, porém, um pingo de chuva não chegou. Santo...! Santo...!! Cadê o teu poder?!!!
O sertajeno cheio de esperança e crença, quanto mais pedia chuva, mais o santo não atendia.
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