Não se completavam oito dias do meu retorno à casa grande, quando numa manhã, antes que Zezinho terminasse a tiragem do leite, padrinho João desesperado com a seca, e a ração estocada se acabando, chamou madrinha Guilhermina.
Padriho João tinha aquela mania de anunciar uma viagem nos últimos instantes.
Pela altura do sol, não passava das 7 horas. Vindo de bem distante, ouvia-se a gaiata do caminhão misto, a qual soltava algumas notas musicais da canção Asa Branca, do cantor e compositor Luiz Gonzaga.
Ao ouvir o cantar da gaiata, padrinho João Horácio apavorou-se, gritando:
“Guilhermina, me dê logo essa mala, senão eu vou perder o carro!! Ele já vem cantando”.
Madrinha Guilhermina correu levando a mala. Ele montou-se no cavalo relâmpago, de sua monta preferida, saindo galopando até à estrada, comigo na garupa para levar o animal de volta. Foram dois quilômetros vencidos velozmente. Relâmpago não dava trégua à moleza. O carro já era visto numa reta da estrada de barro vermelho, deixando um imenso corredor de poeira.
Chegou o veículo. Apanhou-o.
Estava lotado!
E eu retornei à casa grande.
Agora, o cavalo caminhava lento. Não o fiz galopear.
Eu olhava aquele deserto desolado, que assustava um povo desvalido e sem nenhuma esperança de chuva. Ou nenhum sinal dela. Caminhei devagar. Parecia que eu estava num mundo desconhecido distante de tudo e de todos. Parecia estar divagando. Fui observando as queimadas feitas com rumas de xiquexique para alimentar o gado faminto; e dele, porém, até o povo comia aquele talo duro, seco e sem gosto, para saciar a fome dos adultos e crianças cadavéricos que temiam que a morrinha do gado lhes atingisse também.
Dezenas de ossadas de animais formavam uma ornamentação horrorosa no chão varrido pelo vento, deixando a população desvairada. Era um contraste que deixava em pavorosa a propria natureza.
Continuei observando!...
Fui observando e lá se vinha o vento forte formando redemoinhos tempestuosos, que passavam se contorcendo e fazendo ziguezague, feitos uma minhoca na areia quente, levando consigo o resto que a seca havia destruído.
Parecia que tudo aquilo era puro e simplesmente um devaneio, se não fosse tão real.
Tão real quanto o era a fé daquele povo na imagem de São José. Que não deu ouvidos ao clamor do povo.
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