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Cap 58 Terceiro dia de greve
Cap 58 Terceiro dia de greve

 

            Logo no primeiro expediente, assumiu o comando da Guarnição Mista de Natal, o general Omar Emy Chaves. Naquela época o Exército comandava as demais armas.

Antes mesmo que o general assumisse, o governador Aluízio fizera a cabeça do novo comandante militar, colocando-o na linha de frente contra os sargentos da Polícia Militar com a missão de liquidar o assunto através de uma proposta.

No início da tarde do seu primeiro dia do comando, o general Omar mandou chamar uma comissão de oficiais e outra de sargentos. Integraram a comissão de oficiais o capitão capelão padre Mano-el Barbosa, o major Antônio Olegário e o aspirante Cícero Figueiredo de Mendonça; e a de sargentos fora composta pelos sargentos Antônio Batista Gomes, Gil Xavier de Lucena, Paulo de Castro Pereira e Júlio Ribeiro da Rocha.

A situação ficou complicada quando a tropa tomou conhecimento de que o sargento Gil  iria falar com o general. Temerosos, os policiais achavam que Gil seria preso no gabinete de Omar Emy Chaves. Depois de muita explicação a tropa acalmou-se, entretanto, quando o seu o líder entrou na viatura que nos levaria à presença da autoridade militar, os policiais suspenderam a viatura, deixando-a com os seus pneus rodando livres. E só a colocaram no chão quando o sargento Gil desceu do veículo e ficou com eles.  E em seu lugar foi o subtenente Antônio André Sobrinho que se apresentou voluntariamente.

Seguindo-nos em outro veículo ia a comissão de oficiais. Chegamos ao Quartel General. A comissão de sargentos foi a primeira a ser recebida pelo general, que pensando está tratando com homens rebeldes e indisciplinados, deu início ao seu diálogo em tom bastante amistoso que se desconfiava, ao dizer:

“Meus filhos, aqui não está o general Omar Emy Chaves, e sim o cidadão Omar Emy Chaves. Podem me chamar de você. Como quiserem! O governador mandou lhes oferecer 70% (setenta por cento) de aumento, mas não de imediato, pois é um assunto a ser estudado posteriormente, porque o estado vive em dificuldade financeira”.

A conversa foi interrompida pelo sargento Antônio Batista Gomes, que retirando um recorte do jornal Diário de Natal do seu bolso, no qual dizia que o Estado do Rio Grande do Norte estava com estouro na arrecadação,  falou ao general:

  • Excelência, dá licença!?
  • Pois, não.
  • Excelência, o senhor não foi informado com precisão sobre a real situação financeira do estado. Olhe, aqui diz que o estado tem dinheiro sobrando.

O general ficou todo sem graça. Foi-lhe feito um convite para comparecer ao Quartel da Polícia Militar, a fim de conversar com a tropa e convencê-la a aceitar a proposta do governo, o qual respondeu:

  • Não vou! Tenho medo de ser desmoralizado.
  • Não, excelência! Isto não acontecerá. O senhor pode ir despreocupado. A tropa não trabalha enquanto o governo não atender ao nosso pedido, mas existe disciplina - esclareceu Antônio André.

O general já com o tom da voz mudado, sem aquela de fidalgo, respondeu:

“Não! Não vou!”

Finda a reunião sem êxito, a comissão deixou o gabinete para dar lugar à de oficiais, que sabedora da nossa posição, também rejeitou a proposta.

Retornamos ao quartel e reunimos a tropa, que ansiosamente aguardava-nos. O capitão capelão anunciou o resultado do nosso encontro com o general, a qual, mais uma vez, ficou indignada com o descaso do governador Aluízio, pois a resposta continuava sendo a de sempre: IA ESTUDAR A POSSIBILIDADE.

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