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Cap 117 Sexto dia de greve
Cap 117 Sexto dia de greve

 

             Chegou a segunda-feira - 14 -, o sexto dia de greve. Fui bem cedinho para o Clube Tiradentes. Os policiais, também, chegaram cedo, mas, faltava muita gente. As prisões continuavam. Alguns policiais telefonaram-nos avisando de que centenas de PMs, que não participaram das decisões nas assembléias, foram para o Quartel da Polícia Militar, na manhã daquela segunda-feira, pensando que a tropa se encontrava lá, e iam chegando e sendo presos e recolhidos aos xadrezes, enquanto outros ficavam sem sair. O quê deixava a comissão preocupada era o fato dos policiais estarem sendo presos porque não iam às reuniões e ficavam tomando cachaça na rua, motivando esvaziar o movimento.

Recebi um telefonema do doutor Odúlio Botelho, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB/RN, o qual me comunicava sobre uma conversa que tivera com o comandante geral.

Relatei-lhe todo o drama que envolvia os policiais militares, inclusive o descaso do alto comando que não movia uma palha em nosso benefício.

Naquela oportunidade o doutor Odúlio me convidou para uma reunião na OAB, às 15:00 horas, do mesmo dia.

Quem compareceu ao clube, às 7 horas e 30 minutos, naquela manhã,  foi o major Câmara, Comandante do Corpo de Bombeiros, que educadamente externou o desejo de ser mediador entre os policiais e o coronel Altamiro:

  • Se eu trouxer o coronel Altamiro aqui, vocês o receberão? - perguntou o major.
  • Pode trazê-lo, que o receberemos com muito prazer - respondi.

O major foi apanhar o coronel Altamiro, e não se demorou a voltar. Deixamos os dois no gabinete da presidência do clube, e fomos primeiro preparar o espírito dos policiais e familiares, inclusive diversas esposas que se destacavam na luta paredista.

Com o subcomandante presente à reunião, e depois de ouvir alguns companheiros, apresentei a proposta que os policiais aceitavam:

  • Coronel foram presos dezenas de policiais. A nossa proposta é que o senhor interrompa as punições, a tropa retorna às suas subunidades de origem, e quando passar os conflitos emocionais, o senhor recomeça as punições, pois tudo feito tomado de emoção é drástico.
  • Lamento tudo quanto está acontecendo. Não posso interromper as punições. Determino que todos os policiais militares retornem às suas subunidades de origem. Vou me afastar, e vocês analisem minha proposta - concluiu Altamiro.

A proposta do subcomandante foi rejeitada. À reunião estavam presentes representantes de várias instituições, que foram prestar solidariedade aos policiais militares. A tensão tomava conta deles e de seus familiares. A maioria dos policiais que se mantinha com serenidade estava se afastando das reuniões devido o radicalismo de muitos. As prisões continuavam. Em frente ao clube  estavam estacionadas 5 guarnições sob o comando de oficiais com a finalidade de prender os que estavam lá, que  também lutavam pelo direito deles.

Contando com a presença dos mais exaltados, estes, podiam nos levar a um caminho bem diferente. Como eu disse ao coronel Altamiro: Tudo feito tomado de emoção é drástico.

Desde o início que eles não seguiam a orientação das lideranças do movimento. E fatalmente se configurava a derrota. Tentei convencê-los a colocar a família para protestar, e eles retornariam ao trabalho, pois, o povo estava do nosso  lado, e  as  autoridades  governamentais  já  haviam anunciado uma solução imediata para atender as nossas reivindicações, entretanto, tentei em vão.

Perto do meio-dia, foi encerrada a reunião. As guarnições continuavam lá e chegara mais um carro choque. Um dos oficiais me percebendo entrou na viatura, e deu partida em minha direção, mas, rapidamente, apanhei um  ônibus que acabara de parar na frente de outro e o oficial seguiu o de trás. Muito distante, quando o outro ônibus mudara de rota e a guarnição seguindo-o, desci e apanhei outro coletivo. Fui para minha residência.

Em casa, comecei a refletir sobre os rumos que o movimento estava tomando com a maioria dos policiais recuando, e todo dia ocorrendo dezenas de prisões. Nós acabaríamos presos. Eu teria que procurar uma saída honrosa, levando em consideração que estavam conosco além dos sindicatos já consignados, os Sindicatos   dos Petroleiros e dos Médicos, as Igrejas Católica e Evangélica, a OAB, e Direitos Humanos. Depois de meditar, decidi me comunicar com o major Câmara, pois, a sua maneira diplomática e tão educada teria me transmitido confiabilidade.

Telefonei para o major:

  • Major, aqui é o subtenente Júlio. Eu revolvi tomar uma posição; amanhã, bem cedo, haverá uma assembléia no clube dos sargentos; convocarei a imprensa; direi que o recado já foi dado; vou tentar convencer aos companheiros a retornarem ao trabalho, e em seguida eu irei ao Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, a fim de apresentar-me ao comando.
  • Ótimo Júlio! Ótimo! Às 15:00 horas, eu estarei na Companhia de Trânsito, no Alecrim. Vá lá para a gente conversar.
  • Não senhor major! O senhor não entendeu...! Eu não quero ser preso, não. Lá na Companhia de Trânsito, os oficiais vão me prender.
  • Então, vamos marcar em outro lugar...
  • Às 15:00 horas, eu vou a uma reunião na OAB. De lá, 1eu irei me encontrar com o senhor na Praça Kennedy, no centro da cidade.
  • Ótimo!!... Combinado!... Até mais tarde.
  • Até, major.

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