O trabalho na fazenda era igual ao da fazenda Pitombeira, exceto o de ir buscar água. Razão pela qual, em nada estranhei. O velho Chico Galvão, seus trabalhadores e amigos admiravam a disposição que eu tinha para o trabalho. A fama sobre o meu trabalho logo se espalhou, surgindo vários convites para trabalhar com outro patrão, mas só me ofereciam salário insignificante.
Na fazenda de Chico Galvão trabalhei perto de um ano, foi quando travei conhecimento com José Maria e Iarandi - este, a família o chamava de major -, filhos de Luiz Sátiro, também fazendeiro, os quais me convidaram para ir trabalhar na fazenda deles. Aceitei o convite e fui pedir as contas ao senhor Chico Galvão, que ficou com o quê de tristeza alguns minutos sem me responder nada, mas, ao cabo deste tempo, disse-me:
“Vai com Deus, Júlio”.
Fui-me!
A fazenda de Luiz Sátiro ficava bem perto da cidade, além desta, também possuía uma padaria na rua principal de Monte Alegre. Procurei José Maria e Iarandir aos quais informei que iria trabalhar para eles.
Fui levado à fazenda de Luiz Sátiro, para trabalhar na agricultura e tomar conta do gado. Dormida e alimentação, tudo lá mesmo.
Os filhos de Luiz Sátiro me incentivaram a estudar. Matriculei-me na escola do professor Chico de Tutuia, que levava jeito de quem não gostava de mulher, porém, um excelente mestre. Fui aprimorando os meus poucos conhecimentos que tiveram inicío com os primeiros ensinamentos de padrinho João Horácio. E assim, segui minha vida, trabalhando de dia e estudando de noite.
O serviço havia aumentado na fazenda. Para me ajudar foi para lá um rapaz de nome Edmundo, procedente do Estado da Paraíba. Ele era preguiçoso. Eu, acostumado com aquela vida, acordava antes das 5 horas, indo trabalhar na lavoura, enquanto Edmundo ficava deitado até às 7 ou 8 horas.
José Maria e Major iam muito à fazenda com o seu pai, os quais ficavam conversando comigo. Quem sempre estava lá quase todos os dias, era seu Rolandino, sogro de Luiz Sátiro. Era um velhinho baixinho, com um coração formidável e demonstrava que me queria bem.
Aquela amizade toda causou inveja ao tal Edmundo. E numa certa manhã, ele deu-me uma bofetada na boca e puxou uma pistola fogo central para me matar.
Sai correndo todo ensangüentado. Fui até à casa de Luiz Sátiro, na cidade, que sem perder tempo levou a polícia à fazenda. Tomaram a pistola de Edmundo. Colocaram-no dentro de um Jeep, e foram deixá-lo na fronteira do Rio Grande do Norte com a Paraíba.
Não tardou, porém, os filhos de Luiz Sátiro convencer o pai para me colocar nos trabalhos da padaria. Fiquei trabalhando interno por algumas semanas. Depois fui vender pão com um balaio na cabeça. Larguei o balaio para utilizar uma burra mula.
Minhas viagens aumentaram. E para longe. Eu colocava a cangalha na burra com uma grande carga de saquinhos de brotes e bolachas. Não existia hora para sair, nem para chegar. Às vezes, à meia noite, eu estava distante. Andava por Lagoa de Pedras, Lagoa Salgada, Vera Cruz e vários povoados, com dezenas de quilômetros de distância.
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