À hora de sempre - O7:30 -, chegou o coronel Luciano. Como de praxe, a guarda do quartel formada o recebeu, pois o respeito hierárquico permanecia para alguns casos.
O aspirante Irineu foi se apresentar ao coronel comandante, a quem comunicou sobre os acontecimentos, o qual respondeu:
“Já estou sabendo, doutor!!...
O comandante dirigiu-se direto ao refeitório dos praças. Eis, que ao chegar à entrada a sua face estava pálida. Ele parecia até que estaria com alguma dificuldade de caminhar. Parou bem à frente da tropa. Ficou meio indeciso. E mordia os lábios. Virou-se para o seu motorista que se encontrava ao seu lado, mandando-o estacionar o carro oficial do comando em frente ao refeitório. E, finalmente, dirigiu-se aos seus subordinados rebelados que o aguardavam num silêncio profundo, perguntando aos gritos:
“O que está havendo aqui!?”
Nesse ínterim, os sargentos Gil e Félix, o primeiro com o documento na mão dirigiram-se ao coronel, comunicando-lhe sobre o fim daquela reunião, tendo Gil começado fazendo uma explanação sobre o conteúdo daquele documento, quando Luciano interrompeu dizendo:
“Não quero discurso, sargento! Não me empenharei junto ao governador, pois serei meramente um portador deste documento, e se começarem com besteira, eu chamarei o Exército".
Indignados, os policiais gritaram:
“Pode chamar o Exército!!. A partir de agora vamos cruzar os braços!!”
O coronel estava com a sua fisionomia se transfigurando. Sua face ficou mais pálida. E os seus lábios já bem vermelhos de tanto mordê-los. Ele deu meia-volta, dirigiu-se ao seu veículo e seguiu destino ao Palácio do Governo, a fim de entregar o mencionado documento ao Governador Aluisio.
Levando-se em consideração a postura assumida pelo comandante, a comissão achou conveniente recolher todo o policiamento da capital. Este trabalho começou pela Casa de Detenção, cujo comandante da aguarda era o 3º sargento Heleno Donato da Rocha, o qual retirou os policiais de todas as guaritas; colocou-os em forma junto com os de folga, e após entregar as chaves do presídio ao seu diretor, que chegara naquela ocasião, marchou para o Quartel da Polícia Militar.
Os policiais das Delegacias de Polícia da Capital, residência oficial do governador e Palácio do Governo, abandonaram os seus postos e juntaram-se à tropa rebelada.
Outra providência adotada foi recolher ao material bélico todo o armamento oficial existente no interior do quartel, bem como as armas particulares, inclusive a arma da sentinela do portão principal. Toda a tropa ficou desarmada. Totalmente indefesa para enfrentar uma possível represália. Recolhidas as armas ao depósito, foi o seu cadeado fechado e selado, sendo a chave entregue ao tenente-coronel José Reinaldo Cavalcanti, subcomandante da corporação.
Naquela manhã, um fato nacional quase que nos atrapalhava, que foi o levante armado dos sargentos da Força Aérea Brasileira, em Brasília, os quais seguiam a política idealista do Presidente Goulart; eles prenderam o doutor Clovis Mota, que era deputado federal pelo Rio Grande do Norte. Desse movimento, um motorista que passava nas proximidades dirigindo um veículo foi vítima fatal das metralhadoras revoltadas. O levante de Brasília foi rapidamente sufocado pelas autoridades federais e os revoltosos presos.
As autoridades militares federais queriam que o nosso caso tivesse conexão com a rebelião dos sargentos do Distrito Federal, porém, ficou comprovado estarem equivocadas. E, não passou de uma mera coincidência.
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