Na segunda semana do mês de junho, o velho João Horário, a exemplo dos demais anos, começou os preparativos para a festa de São João. Foi à Natal, capital do Estado, comprar fogos de artifício, balões e bandeirinhas para ornamentar a casa grande e seu terreiro. Tudo para os festejos juninos.
À véspera do dia de São João, Rosemiro chegou do Recife, dirigindo o seu carro preto, de marca Ford 29, de duas bancadas, sendo grande novidade para o povo local, pois naquelas bandas raramente passava um carro.
Dona Sulina tomava conta das mulheres e adolescentes que apanhavam feijão de arranca, que estando maduro nascia nas vagens porque a chuva não dava moleza.
Logo bem cedo, Zeca e Luiz prepararam a fogueira com lenha molhada, que media dois metros e meio de largura. Foi um trabalhão só para montá-la, que, aliás, era a maior da redondeza.
Às 18:00 horas, colocaram fogo; utilizaram dois litros de querosene, e quase que não acendiam.
Solidárias com São João, as nuvens cobriram a passagem da claridade da lua e das estrelas para dar lugar à claridade das fogueiras. Padrinho João deixou no alpendre uma braçada enorme de foguetões, e gritou:
Na conzinha, nuns tachos grande no fogão de lenha, Sulina e madrinha Guilhermina preparavam pamonha e canjica.
No alpendre, aquele monte de milho verde para assar nos brazeiros da fogueira.
Começaram a chegar os convidados. Trabalhadores e suas famílias. Vizinhos mais próximos. Não faltou ninguém. Meu padrinho tinha prestígio e era respeitado por quem o conhecia. Deveras, era um homem de vergonha.
Quem chegara também para os festejos em Pitombeira, foi o cabo de polícia Manu, filho de Chico Preto, que era viciado na pinga e gostava de arruaças, mas quando ficava bêbado não passava nem por perto da fazenda Pitombeira, pois ele respeitava a família de padrinho João.
Manu foi direto à casa da fazenda. Sem ter bebido, mas com uma garrafa de cachaça na mão, procurou padrinho João, a quem pediu:
“Guarde aí, seu João. Quando eu for embora, vou beber bem longe daqui!”
Lá pelas nove da noite, aquela grande fogueira se reduzira em brasas. Dona Sulina, Maria, irmã de compadre Zeca, assavam milho verde naquele monstruoso braseiro.
Seguiram-se as brincadeiras feitas à luz das fogueiras de São João: o casamento e o batismo. Quem iniciou foi Luiz de compadre Zeca que convidou Cícera Cassiano para ser sua madrinha de fogueira. Colocaram no chão dois toros acesos da fogueira. Cícera segurou a mão direita de Luiz, deixando os dois toros entre eles, começou o cerimonial:
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