Finda a moagem na casa de farinha. Numa manhã, pelas oito horas, reuniram-se os homens e mulheres na residência de padrinho João para as prestações de contas.
Meu padrinho dera uma ligeira saída, enquanto eu retornava do cercado aonde fui deixar o gado. Madrinha Guilhermina, na frente do pessoal, aos gritos e sem nenhum motivo, deu-me dois cocorotes, que sai desorientado, morrendo de vergonha. Já um rapaz, eu não aceitava mais aquele comportamento. Fui ao meu quarto. Coloquei minha rede e minha roupa dentro de uma mala velha feita de tábuas, e fui embora.
As meninas de Manoel das sete bocas, que me queriam bem, ficaram chorando, as quais me acenavam toda vez que eu olhava para trás.
Segui caminho sem destino andando apressado igual a uma ave de arribação quando perde a revoada. Não encontrava uma só pessoa naquele caminho. O sol estava quente. Tirei de dentro da mala um relógio velho de algibeira, que já marcava meio dia e vinte. Cansado e com fome, procurei repousar debaixo de um pé de catanduba grande.
Naquele momento comecei a me preguntar: “Será que é este o meu destino”?
Foram vinte minutos de descanso. Retomei à caminhada. Para aonde, não sabia!...
Peguei um caminho com um areal terrível. O sol já pendia, mas queimava feito brasa. Já tardinha, aproximava-se a brisa da noite. Eu me sentia consado. Eis que vem cruzando comigo um cidadão dos seus 45 anos idade - a primeira pessoa que encontrei durante todo o caminho -, que montava num cavalo robusto e veloz, o qual parou o animal que ficou num pé e noutro.
O estranho fechou a cara, demonstrando está traumatizado, entretanto, retomou o diálogo.
O homem ficou agitado. Suspirou franzindo o couro da testa. Encurtou as rédeas do cavalo. O animal quis se agitar. Do bolso, retirou um lápis e um pedaço de papel. Escreveu alguma coisa. Dobrou o papel e me entregou, dizendo:
“Aqui em Monte Alegre, você procure seu Chico Galvão, que é meu compadre e entregue-lhe este bilhete. Ele tem trabalho para você”.
O gentil homem esporou o cavalo e desapareceu em destino contrário, pelo mesmo caminho.
Quase escurecendo, apressei os passos. Logo, surgiu a lua, que estava linda. Depois de uma boa distância, avistei aqueles bicos de luzes turvas. Era a iluminação elétrica da cidade e apareciam as primeiras casas.
Dois homens sem camisas, sentados na calçada de uma casa, conversavam com uma mulher que permanecia em pé na rua, quando eu os interrompi:
Para lá me dirigi. De fora dava para ver quem estava dentro de casa. Bati palmas. Saiu uma senhora morena, magra, alta, de cabelos encrespados, a quem entreguei o bilhete. Ela sumiu casa a dentro, mas voltou logo. Abriu a porta da área, mandando que me sentasse num sofá de veludo malhado, que mais se parecia com uma onça pintada.
Vem chegando à área um senhor dos seus 60 anos de idade, alvo e baixo. Era Chico Galvão e conduzia o bilhete na sua mão direita.
E continuando, disse Chico Galvão:
“Seu primeiro trabalho todo dia é ajudar ao tirador de leite a arrear os bezerros. Ele chega às 4 horas da madrugada. Eu lhe chamarei quando for hora. O nome dele é Paulo. Quando terminar de tirar o leite, você vai levar as vacas para o pasto, e em seguida cuidar da ração, que é capim e palmatória. Paulo vai lhe ensinar tudo direito. Compadre Zé disse no bilhete que você não tem pai, nem mãe. Se você for trabalhador mesmo, vai ter tudo isso aqui. Vou mandar lhe dar de comer. Você deve estar com muita fome”.
Foi um jantar farto igual ao da casa de padrinho João. O velho Chico Galvão não parava de fazer-me perguntas, porém, nada que me deixasse embaraçado. Jantei!... Ele levou-me para um depósito imenso, no qual armazenava muita coisa.
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