Após ser posto em liberdade, Miguel Estelito passou a ser vítima de permanentes perseguições - coisa que se fazia muito bem na corporação.
Reiteradas vezes ele foi chamado pelo oficial de gabinete do comando geral, que lhe entregava um documento devidamente datilografado para assiná-lo requerendo a sua baixa das fileiras da Polícia Militar. O sargento, contudo, se recusava fazê-lo. O oficial, sem êxito, comunicava ao seu comandante que o sargento Estelito se negava a assinar o documento. Depois de várias tentativas sem sucesso, o mesmo oficial de gabinete, por determinação superior, mandou chamá-lo e com o dito requerimento nas mãos, foi explícito:
“Assine aí, doutor!! Ou você assina, ou será expulso da Polícia! Escolha!!...”
O sargento recusou-se assiná-lo. Ele, que não tinha outro meio de vida, e pai de família, resistia em não assinar o tal requerimento. As pressões dos que chaleiravam o comandante não lhe davam folga. Todo dia, Miguel Estelito estava enfrentando uma verdadeira prova de fogo, pois na corporação existia muita gente que, a fim de agradar a quem estava no comando, vendia até a sua alma ao diabo.
O maior receio de Miguel Estelito era o de ser expulso. A expulsão, à época, causava pavor. Era um ato triste e perverso. Horroroso! Deprimente! Colocavam o expulso em frente à tropa formada. Sua farda era rasgada, deixando-o só de cueca, enquanto a tropa, obedecendo a um comando dado através do toque de cornete, virava-lhe as costas e a banda de corneta repinicava, melancolicamente, os seus taróis. E, o cidadão saia escoltado para ser entregue à Chefatura de Polícia, que depois virou Secretaria de Segurança Pública; Secretaria de Defesa Social; e mudou de nove para Segurança Pública e Defesa Social.
O cidadão expulso da PM seria fichado pela Chefatura de Polícia como mau elemento, e conseqüentemente impedido de conseguir um emprego ou fazer concurso público durante dois anos. E Ainda ficava preso injustamente por alguns dias ou semanas.
Estelito temia ser vítima dos atos bárbaros praticados à sanha da lei. Sem nenhum respeito ao sentimento humuno.
Oh, que coisa cruel!
O oficial de gabinete, contudo, não desistiu. E seguindo ordens expressamente severas, mandou chamar o sargento Miguel Estelito, asseverando-lhe:
“O comandante não quer nem lhe vê. Assine aqui este requerimento e não diga nada, caso contrário, você será expulso amanhã. Assine!!...”
Não teve outra alternativa para o sargento, que assinou o requerimento, sendo submetido, de maneira desumana à tamanha injustiça.
O coronel Luciano enfrentando a pressão dos sargentos e a insatisfação da tropa, esqueceu-se de mandar publicar a baixa do sargento Estelito no boletim da caserna, ocorrendo um retardamento de meses.
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