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Cap 140 Mais uma decepção
Cap 140 Mais uma decepção

 

         Diante da primeira ingratidão dos policiais, que não me elegeram a vereador em 1992, eu não pretendia mais me candidatar acreditando neles, pois, a maioria não era confiável.

Entusiasmado pelo incentivo de alguns amigos, resolvi me candidatar a vereador à Câmara Municipal de Natal nas eleições de 1996. Eles mesmos fizeram questão de levar-me à presença da professora Wilma de Faria, presidente do PSB, e candidata a prefeita de Natal, que garantiu a minha candidatura, salientando:

“Eu conheço o seu trabalho, Júlio. Pode ficar tranqüilo que a sua vaga está garantida”.

Deixei o PDT e ingressei no PSB a 15 dias do prazo de filiação para quem iria se candidatar. À época, o partido não contava com nenhum vereador. Eu fiquei colocado no oitavo lugar.

A aceitação do nome da professora Wilma crescia de maneira impressionante e atraiu alguns vereadores  candidatos a reeleição, que se filiaram ao partido da candidata Wilma. Com o ingresso de fortes aliados, naturalmente, o meu nome seria empurrado para o final da fila, e comecei me preocupar, pois, corriam especulações sobre uma possível coligação majoritária e proporcional do PMDB com o partido da professora Wilma. E vendo a minha posição, fatalmente, não me restaria vez.

Justamente, em meio às dúvidas, com  dois dias para terminar o prazo para mudança de partido, fui procurado pelo professor Pinheiro, que fundara o PSD que não dera certo, o qual se filiara ao partido da professora Wilma e estava querendo deixá-lo. Pinheiro cientificou-me de que o PSB estava fechando coligação com o PMDB e que o seu presidente, senhor Aluízio Alves, só deixaria 8 vagas para o partido aliado, e eu não teria nenhuma chance. Continuando, ele me convidou para me filiar ao PMN, e foi logo me convidando para ir falar com o seu presidente, senhor Eliomar. Este, jeitoso, calmo que tinha até preguiça de falar, dizia:

“É mesmo... É mesmo... Pinheiro tem razão! Com esta coligação, o senhor não tem chance no partido da professora Wilma”.

Não tive nem tempo  de procurar os amigos que me levaram para o PSB, preenchi a ficha me filiando ao PMN. Foi o meu primeiro grande erro. E com Pinheiro, fui à sede do PSB entregar uma carta comunicando que estaria deixando o partido, cuja secretária, dona Marilene, não aceitou, orientando-me que antes daquela medida eu fosse falar com a professora Wilma, que se encontrava em seu apartamento, no Tirol. Fui, inclusive, com um dos membros do PSB e Pinheiro. Ela estava apanhando o seu veículo com destino à Capital do Recife, todavia, desceu e foi me receber. Ciente do que se tratava, retirou os seus óculos escuros, e, gentilmente, disse-me:

“O senhor olhe bem nos meus olhos para o que eu vou lhe dizer: A sua vaga está garantida”.

O professor Pinheiro, contudo, continuava insistindo. Com ele, fui ao PMN a fim de comunicar a Eliomar que eu ficaria mesmo no partido da professora. Mas, que nada! Bom de conversa, Eliomar convenceu-me a ficar com o PMN. Foi o meu segundo pior erro que pratiquei naquele dia, pois, são perigosas as atitudes tomadas no fogo da emoção. E para encurtar a conversa, o partido da Professora Wilma não fez coligação nenhuma com o PMDB.

O PMN fez coligação na majoritária com o professor João Faustino para prefeito, que também era o candidato do PMDB e PSDB. Eliomar, periodicamente, fazia reuniões na sede do partido ou no seu apartamento no bairro Nova Parnamirim com parte dos 23 candidatos do partido. Ele subestimava os ausentes, dizendo:

“Fulano é fraco!!... Ele é candidato de 100 votos!!...”

E o mesmo comportamento era adotado com as outras turmas em relação aos que haviam se reunido com ele. Eu não via, praticamente, confiança nas atitudes do senhor Eliomar, que, em conjunto adotava um comportamento, mas na verdade, seguia outro.

Os partidos fortes repassaram ajuda financeira aos pequenos. A municipal do PMN, de posse do dinheiro, fez  uma distribuição, no mínimo, desastrosa. Para uns, deu 10 mil reais; para outros, 5 mil reais. E, segundo comentários - depois confirmado pelo próprio Eliomar - 10 mil reais para gente da Regional do PMN, que não era candidato. Para mim, tão somente, 350 reais. Para muitos, cartazes com retratos majestosos super coloridos. Para mim, em preto e branco, que mal se via minha cara, e um tampão no olho esquerdo, que serviu de gozação. Parecia até uma piada! Joguei-os no lixo.

Na  Polícia  Militar,  não  foi  diferente  da  primeira vez. Eles - os meus malfeitores - estavam sempre à solta fazendo campanhas sujas para me derrubar. Muitos diziam que todos os votos da família eram meus, mas a estória mudava com a minha saída. O sargento Floriano fez terrível comentário na presença das praças, no corpo da guarda da Assembléia Legislativa, quando estive lá a fim de pedir votos, e haver me afastado:

“Um porqueira deste, quer ser vereador!...”

Na Companhia de Choque, às 07:30 horas, quando fazia uma visita e pedia votos, fui expulso de lá, por seu comandante, capitão Arcanjo, o qual utilizou a sua própria força física, porém, livrei-me de suas garras.  

A única diferença da campanha anterior era que o Comandante Geral, coronel Mesquita, não me fazia oposição, e cumprimentava-me com floreada fidalguia. Mas,  em compensação, fazia a campanha para vereador do seu cunhado Urubatan Maia, e os birôs da corporação foram transformados em comitês políticos prol candidatura Urubatan.

Consegui os endereços dos policiais, e visitei 2 mil residências da família policial militar. Só, e a pé, eu chegava à residência. Batia à porta; cumprimentava a pessoa que me atendia, geralmente a esposa, e perguntava:

  • Fulano de tal mora aqui?
  • Ele está?
  • Não.
  • Eu sou o subtenente Júlio. Sou candidato a vereador. Ele falou para a família que eu sou candidato!?...
  • Não!!... Falou não.
  • Ele falou que sou eu quem defende os direitos dos policiais militares?
  • Não!!...

Conduzir a campanha daquela maneira era a pior coisa que eu estava enfrentando. E acima de tudo, até uma humilhação. Dezenas de vezes, os policiais que se encontravam em suas casas, atendiam-me por entre as grades das residências, em cujas paredes estavam retratos de outros candidatos que nunca haviam lutado pelos direitos deles.

Outros me encaravam, friamente, perguntando:

“O senhor quer o quê?”

Eu, todo sem jeito, não encontrava clima para uma boa conversa. Desculpava-me e seguia minha caminhada. Por ironia do destino, tive um voto a menos que na eleição de 1992. E, mais uma vez, quem menos me confiou o voto foi o policial militar.

Enquanto eles não elegeram o seu representante, uma prostituta numa cidade, no Estado do Rio Grande do Sul, foi eleita por suas colegas prostitutas, à Câmara Municipal local, com mais de 6 mil votos.

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