O IPE só pagou a pensão até dezembro de 1993. E, a partir de janeiro de 1994, eu receberia pela Polícia Militar.
Meus perseguidores não se emendaram com tanta derrota, pois, para quem só sabia maquinar maldade, não seguia outro caminho. E assim, retardaram o andamento do processo de minha reintegração. Chegou o dia do pagamento do meu salário do mês de janeiro. Não encontrei o contracheque no Serviço de Pessoal Inativo. Na mesma hora, procurei o Departamento de Pessoal da Polícia Militar, onde encontrei o dito processo parado há 45 dias, sem se mexer, pelo menos de uma gaveta para outra, e dependendo do trabalho burocrático de um soldado que me atendia com desleixo e queria mandar mais do que o coronel chefe do departamento. E mandava! Reclamei ao coronel sobre o descaso da repartição, o qual determinou o andamento do processo.
Uma semana depois, retornei àquela repartição, e para minha tristeza o processo continuava lá, cheio de poeira e teias de arranha. Aos gritos, fui perdendo a delicadeza, e exigindo que fossem tomadas as providências para encaminhar o expediente à Secretário de Administração, a quem caberia efetuar a implantação do meu salário. O coronel, chefe da repartição tomou a defesa protestando que a demora não era da repartição, mas, de pronto, protestei:
“É não!? E de quem é!!... Hein, coronel!!?”
Não dei mais espaço, e no dia seguinte fui ver como estava o processo, o qual já havia sido remetido para a Secretaria de Administração. Após 2 dias, procurei o documento na administração, onde só demorou 5 dias, e retornou à Polícia Militar. Corri atrás. Encontrei-o na Diretoria de Finanças a espera para refazer os cálculos.
Confiei na repartição, certo de que no mês de fevereiro receberia os dois meses. Chegou o dia do pagamento. Fui buscar meu contracheque. Nada!... Nada de contracheque.
Como da outra vez, fui à Diretoria de Finanças. Encontrei o processo parado, e basicamente não haviam feito nada dos cálculos. E o que me chocou mais foi saber que o processo teria que ir ao Tribunal de Contas, e que lá demoraria muito.
Com dois meses sem receber dinheiro, submetido com minha família aos mesmos flagelos de antes, descontrolei-me dentro da repartição e joguei para fora tudo que me devorava por dentro:
“Seus miseráveis! Desgraçados! Comandante monstro! Bando de injustos! Cabras safados! No dia que eu morrer, se minha alma tiver vergonha, não passará em frente ao portão deste desgraçado quartel”.
Totalmente desorientado, conclui:
“Amanhã, às 9 horas, retornarei aqui e eu quero esse processo pronto. Vocês entenderam, ou eu falei grego?”
À hora prevista, cheguei à Diretoria de Finanças da PM. Os cálculos estavam feitos, e só faltava levá-lo ao Tribunal de Contas. Pedi para eu mesmo conduzi-lo. Dei entrada no tribunal, aonde falei com um funcionário humilde encarregado pelo andamento do expediente diretamente nas sessões, o qual me prometeu colocar o processo, urgente, em pauta. Dez dias se passaram, e procurei o mesmo funcionário, que me entregou o processo já devidamente aprovado.
Eu teria que retornar à Diretoria de Finanças da PM. Ora, dessa vez foi tudo muito rápido! E no mesmo dia levei-o para o setor de implantação da Secretaria de Administração. Era no final da segunda semana do mês de março. O funcionário encarregado pelo serviço informou-me que sairiam os 3 meses num só contracheque no dia do meu pagamento - 6 de abril de 1994.
Fiquei mais aliviado. Com água e luz cortadas, ouvindo choros e palavras de revolta, inclusive com o meu filho mais novo doente, indo freqüentemente ao pronto socorro dos hospitais, procurei o presidente do Clube Tiradentes, e até de maneira humilhante, pedi a sua ajuda enquanto eu receberia o pagamento. Ele, porém, negou-me.
Telefonei ao cabo Sobrinho, presidente da Associação de Cabos e Soldados, ao qual contei a minha terrível situação, com água e luz cortadas, há 5 dias comendo pão, com o meu filho gravemente doente, que se contorcia em dores. Solicitei que ele me desse uns vales refeições, que eu os pagaria no dia 6 de abril. O cabo, que era leitor da cartilha do comandante Altamiro, negou-me ajuda.
Chegou o dia 6. Fui pegar o meu contracheque no Serviço do Pessoal Inativo. Grande foi, todavia, a minha revolta porque o meu nome não estava na listagem, nem existia nenhum contracheque.
Irado, disparei a soltar palavrões para todo lado contra o comandante. Só não o chamei de santo, porque ele não o era. Mas, o resto!... Na ocasião se aproximava o coronel da reserva José Francisco Pereira, o qual assustado com tanto desaforo que ouvira, procurou me acalmar.
Não deu nem tempo para conversar direito com o coronel, e sai correndo para a Secretaria de Administração que ficava bem distante do serviço inativo. Fui a pé. Cheguei arrasado e cansado. Entrecortando as palavras falei com o mesmo funcionário que me garantira o recebimento dos 3 meses, que providenciou, na hora, a confecção do meu contracheque.
Fui ao banco e retirei o meu pagamento. Abasteci a casa. Paguei água e luz que estavam cortadas. Comprei os medicamentos de Aparecida e do meu filho.
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